DEPRESSO: Conhea trs histrias de luta e superao 4h6h2
Publicado em 07/04/2019
Editoria: Sade
Depresso uma doena como qualquer outra e pode atingir qualquer pessoa, em qualquer poca da vida. assim que o psiquiatra Dr. Antnio Geraldo da Silva, presidente da Associao Psiquitrica da Amrica Latina (APAL) comea a explicar a doena.
A depresso um transtorno mental que est no dia a dia de muitas pessoas. Segundo o ltimo relatrio divulgado pela Organizao Mundial da Sade (OMS), so mais de 300 milhes de pessoas que vivem com a doena no mundo.
Lidar com o transtorno um processo longo e difcil. Por isso, hoje, vamos conhecer histrias de pessoas que superaram e esto superando a depresso. So relatos de quem ou por momentos conturbados e tiveram, praticamente, que parar a prpria vida para enfrentar a doena. Graas ao tratamento correto, essas pessoas conseguiram voltar rotina.
1 A minha fora veio do meu filho
Uma pessoa divertida e animada. assim que diz que era, antes de descobrir que estava com depresso. Tudo comeou aos 26 anos, por causa do trmino do relacionamento com a me do seu filho. De uma pessoa entusiasmada, Filipe se transformou numa pessoa que comeou a no querer sair, a no fazer nada, a chorar com frequncia e, confessa, teve at pensamentos suicidas.
A partir da ele resolveu procurar ajuda. Foram quase trs meses com os sintomas, at a deciso de procurar tratamento. Eu mesmo era daqueles que tinha preconceito de procurar psiquiatra, psiclogo, de achar que estava bem, que no sou doido, que isso [tratamento] para mim coisa de doido. Ento, levei de uns dois a trs meses para entender que no era normal, que no era do meu cotidiano, da minha pessoa, a partir da decidi procurar ajuda, relembra o jovem.
Primeiro ele procurou um psiquiatra que, logo depois, o encaminhou para uma psicloga. Durante o perodo de tratamento, chegou a tomar trs tipos de medicamentos: um para um para ansiedade, um para depresso e um estabilizador de humor. Mas, para Filipe, a terapia foi o fator principal no processo de cura. Fez tratamento com psiclogo durante um ano e tomou medicamentos por seis meses.
Questionado sobre de onde veio a fora para seguir em frente e no desistir, ele foi direto: Veio do meu filho mesmo! Ele pequeno, tem 3 anos. Ento ele era o que mais ajudava a procurar ajuda, fazer terapia e a tentar melhorar, afirma.
Foto: Arquivo pessoal
Hoje, livre da depresso, Filipe voltou rotina e se esfora para estar sempre entre familiares e amigos. Ao fazer uma anlise do prprio caso, ele entende que dias e momentos ruins sempre vo existir. No tem como ter uma vida perfeita e est tudo bem. Problemas vo ter e tem que aprender a lidar com eles e saber que uma hora a e que vai conseguir dar a volta por cima, alerta.
Alm disso, faz questo de reforar a importncia de buscar apoio e deixar um recado para aqueles que esto ando por um momento difcil. Procure ajuda! Porque a muita coisa na cabea da gente e, se no procurar ajuda, infelizmente, pode acontecer at a questo do suicdio. Tentar se abrir com os outros, procurar ajuda o mais rpido possvel assim que perceber algo diferente, que no habitual, mesmo que no seja nada para no ficar pior ou agravar a situao que estava, conclui.
2 A depresso foi um momento muito difcil, mas fez eu me conhecer
A jovem Marina Lisbo de Carvalho, de 22 anos, tambm enfrentou a doena, no uma; mas duas vezes. A primeira, aconteceu na pr-adolescncia, quando ela tinha por volta de 13 anos. Na poca, segundo a jovem, no foi to intensa. A segunda crise veio entre 2016 e 2017.
A estudante conta que, no perodo mais difcil da depresso, sentia desanimo constante, apatia, no tinha perspectiva de futuro, vivia isolada e at chegou a se mutilar e a ter pensamentos suicidas. A busca por um tratamento partiu da famlia, principalmente da me, que estava muito preocupada. Eu tinha at uma certa resistncia, porque eu estava muito mal, nunca tinha feito acompanhamento psicolgico e, para mim, aceitar fazer o tratamento era dizer que eu estava muito mal e eu vivi em negao com isso, que era depresso, relembra a jovem que comeou o acompanhamento no incio de 2017.
Marina tomou remdios por um ano. Atualmente est livre do medicamento e faz apenas tratamento com psiclogo. Foi um perodo muito, muito importante. Eu vejo toda a importncia desse acompanhamento para o meu processo de melhora, porque essencial mesmo, ter um profissional te acompanhando, acentua.
Ao fazer um balano das causas que a levaram depresso, Marina pontua que a presso diria da faculdade e problemas no ambiente de trabalho faziam com que vivesse em constante ansiedade, fatores que serviram como gatilho para a crise. Mesmo com as dificuldades causadas pela doena, a estudante conta que a experincia trouxe lies que a fizeram rever a prpria vida, mudar hbitos e a entender os pontos que precisavam ser mudados.
O processo depressivo pra mim foi muito difcil, mas ao mesmo tempo me fez enxergar muita coisa. Me fez me conhecer. Antes da depresso eu me negava a entrar em contato com aspectos emocionais mais difceis. Fugia sobre falar disso e dos meus sentimentos, sobre o meu estado. A depresso me fez, talvez, aprender a trabalhar um pouco mais com isso, conta a jovem, que chegou a trancar a faculdade de comunicao e abandonar o estgio para se cuidar.
Foto: Arquivo pessoal
ada a pior fase, a estudante pede que as pessoas no se sintam responsabilizadas por estarem ando por esse tipo de situao, pois a depresso to comum como qualquer outra doena. Primeiramente, temos que tirar o fator de culpa das coisas. Eu sentia que quando estava em crise muito forte eu me culpava muito por estar ando por aquilo e estar fazendo as pessoas que esto perto de mim arem por aquilo tambm. Acho que isso tem que ser retirado, desabafa.
O apoio da famlia, dos amigos e da religio foram fundamentais na recuperao. Para ela, preciso ter empatia e cuidado com quem tem depresso. Alm disso, incentiva quem est enfrentado a doena a no ficar isolado. momento de buscar uma rede de apoio, pessoas que voc confia, pessoas que no te culpabilizam por estar ando por isso. E procure, aos poucos, coisas que vo te reanimando. Por exemplo, se precisar abandonar algumas coisas, abandone, d um tempo, aconselha.
3 Hoje me vejo mais disposta para tudo
Para Anna Luisa de Carvalho, de 21 anos, os sintomas da depresso surgiram no comeo de 2018, durante um intercmbio na Frana. Ela percebeu que algo estava errado quando comeou a no querer mais sair com os colegas, conhecer nenhum lugar e s queria ficar em casa. Fui comear a perceber que tinha algo de errado quando comecei a me isolar dos meus amigos de antes, de no responder mensagem, de no querer ligar, no querer falar com os meus pais. Ali eu percebi que tinha alguma coisa errada, explica a estudante de Relaes Internacionais.
Logo em seguida, a jovem comeou a apresentar os sintomas da ansiedade, como taquicardia e pensamentos confusos. Logo que voltou para o Brasil, Anna Luisa decidiu, por conta prpria, procurar ajuda. Atualmente, continua com os acompanhamentos psicolgico e psiquitrico. Hoje, eu me vejo, com certeza, mais disposta para tudo, porque chega um ponto que voc fica muito cansado, mas com o tratamento acaba ando e consegue fazer mais as suas coisas. Consigo me ver gostando de novo das coisas. Eu consigo ter mais perspectiva de futuro, comemora.
A vontade de vencer a depresso e a certeza de que, em algum momento, se recuperaria foram fundamentais no processo. Eu via nessas pessoas [que tiveram depresso] um pouco de motivao e se elas conseguiram eu iria conseguir tambm, em algum momento. Pode demorar um tempo, trs meses, cinco anos, mas ainda assim, uma hora vou sair disso, afirma.
Alm de incentivar a busca pelo tratamento, Anna pede que as pessoas tenham pacincia e empatia com quem sofre com o transtorno. Estejam preparados para lidar com essas pessoas, porque complexo, uma situao muito delicada, conclui.
A depresso
De acordo com o ltimo relatrio da Organizao Mundial da Sade, divulgado em 2017, 11.548.577 pessoas sofrem de depresso no Brasil. O nmero corresponde a 5,8% do total da populao. Para o Dr. Antnio Geraldo da Silva, ningum est livre de ter a doena, que possui alguns fatores desencadeadores para o seu aparecimento, desde o tipo de vida que o indivduo leva, at os estresses dirios. Entre os diversos fatores, o especialista chama a ateno para alguns sintomas.
So de 2 a 4 semanas apresentando uma tristeza intensa, falta de alegria, de prazer, falta de vontade, de interesse. Aumento de apetite ou diminuio do apetite, aumento ou diminuio do sono. Falta de fazer as coisas, tanto de trabalho ou lazer. Cai vrias questes do corpo, como diminuio da memria, da libido, da capacidade de trabalho e de produo, so as caractersticas maiores do quadro de depresso, explica.
Alguns hbitos so muito importantes para quem vive com a depresso e tambm quer evitar a doena. De acordo com o psiquiatra, atividades fsicas regulares, horrios de dormir e acordar e alimentao adequada so importantes no tratamento. Quando voc tambm tem alimentao adequada com frutas e verduras, voc tem os precursores para fazer as catecolaminas internas. Ento, boa alimentao importante. E boa convivncia. E evitar os fatores desencadeadores estimulantes, como cafena, nicotina, lcool e outras drogas, recomenda.
Como lidar com as pessoas que convivem com a depresso?
Marcos Vincius, psiclogo clnico graduando pela Universidade Catlica de Braslia (UCB), explica que, quando se trata da depresso, a primeira coisa entender que no se trata de frescura e que as pessoas no querem chamar ateno. uma doena que tem tratamento, por isso importante dar apoio e incentivar a procura por profissionais especializados.
Alm disso, alerta para os cuidados que se deve ter com os indivduos que sofrem com a depresso, pois muitas vezes, na tentativa de ajudar pode-se piorar o quadro clnico. Eu sempre digo que a primeira coisa a se fazer acolher essa pessoa e escutar sem julgamentos, nunca fazer censuras, mas pelo contrrio, mostrar a essa pessoa que voc a valoriza. fundamental entender e aceitar que existe, sim, um problema e que precisa dar devida ateno a isso, ressalta o profissional.
Se voc sofre ou conhece algum que est ando por esse tipo de transtorno, busque ajuda o mais rapidamente possvel. Para isso, tambm existe o Centro de Valorizao da Vida (CVV), que trabalha com apoio emocional e preveno ao suicdio. Basta ligar para o 188 de qualquer lugar do Brasil, que voluntrios estaro disponveis 24 horas por dia para o atendimento. O servio gratuito e a pessoa no precisa se identificar.
FONTE: Agncia do Rdio Mais